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Sabado 16 de Noviembre de 2013

Passado é sombra tímida em campanha eleitoral chilena

Imagen foto_00000001O primeiro nome que surgiu com força para ser o candidato do presidente chileno, Sebastián Piñera, nas eleições presidenciais de domingo, foi o de Laurence Golborne, ex-ministro de Minas e Energia e, posteriormente, de Obras Públicas. Mas Golborne enfrentou problemas judiciais e a candidatura acabou ficando para o ex-ministro da Economia, Pablo Longueiras, que terminou renunciando por sofrer de depressão. Finalmente, a ex-presidente socialista Michelle Bachelet, grande favorita, teve como principal rival uma ex-amiga de infância, cujo pai - o general reformado da Força Aérea Fernando Matthei - é considerado por advogados especializados em casos da última ditadura (1973-1990) responsável pelo assassinato de seu pai, Alberto Bachelet, que também foi general da Força Aérea e amigo da família Matthei.

Apesar das circunstâncias inéditas, num país que foi cenário de uma das ditaduras mais violentas das décadas de 70 e 80, o passado de duas mulheres de longa trajetória política esteve longe de ser o eixo de uma campanha que centrou-se nas demandas sociais de uma população que, ao fim do primeiro governo de direita eleito após a redemocratização, em 1990, parece não contentar-se apenas com estabilidade econômica.

Na visão de analistas locais ouvidos pelo GLOBO, a história de vida de Bachelet, que além de perder seu pai esteve presa, for torturada e obrigada a rumar para o exílio, e Matthei, até hoje defensora dos “êxitos” do governo Augusto Pinochet, não foi motivo de debate nem de grande interesse por parte dos cerca de 13 milhões de eleitores chilenos. Detalhe: deste total, cinco milhões poderão pela primeira vez participar de uma eleição presidencial. O voto é facultativo.

- Nenhuma das duas candidatas quis usar esse passado como elemento de campanha, para os chilenos este aspecto de ambas candidaturas não teve o menor peso - comentou Marco Moreno, reitor da Faculdade de Ciência Política e Administração Pública da Universidade Central do Chile.

Para ele, o único momento em que as vidas de Bachelet e Matthei, de 62 e 60 anos, respectivamente, ocuparam espaço importante na agenda eleitoral foi durante as homenagens às vítimas do regime militar em 11 de setembro, 40 anos após o golpe dado por Pinochet contra o governo de Salvador Allende.

- Não houve confronto pelo passado em momento algum, mas nos 40 anos do golpe o passado esteve muito presente e Matthei não fez a autocrítica que muitos esperavam, o que a prejudicou - explicou Moreno.

O analista lembrou que a candidata da direita votou a favor de Pinochet no plebiscito de 1988 e até hoje assegura que a ditadura teve aspectos positivos, embora tenha reconhecido as gravíssimas violações dos direitos humanos.

As famílias Bachelet e Matthei chegaram a conviver numa mesma base militar, na região de Valparaíso, onde ambas as candidatas, ainda meninas, foram amigas. No governo Allende e em meio às pressões cada vez maiores das Forças Armadas, o general Bachelet se manteve fiel ao presidente socialista e terminou sendo assassinado numa prisão militar transformada em centro de torturas após o golpe. O chefe da prisão era o general Matthei. A candidata e sua mãe, Angela Jeria, foram detidas e torturadas no centro clandestino Villa Grimaldi. Libertadas, optaram pelo exílio. Já a candidata da direita permaneceu no país e foi pinochetista.

Hoje, Matthei (casada e mãe de três filhos), que foi militante juvenil, congressista e ministra, representa a conservadora direita chilena. Já Bachelet (divorciada e mãe de três filhos) lidera a chamada Nova Maioria, a relançada Concertação entre socialistas e social-democratas, que, nesta eleição, se aliou com o Partido Comunista. O último pacto eleitoral dos comunistas chilenos, que nesta eleição podem passar de três para seis representantes no Congresso Nacional, foi com Allende, em 1970.

- Com Bachelet, os comunistas poderiam retornar ao governo. A candidata socialista quer uma mudança de esquerda, moderada e dentro do sistema de economia livre e com propriedade privada - afirmou Roberto Méndez, diretor da empresa de consultoria Adimark.

Para ambos analistas, Bachelet e Matthei “representam dois mundos que convivem no Chile”.

- A ex-presidente nunca fez papel de vítima, mas sempre defendeu os direitos humanos. Matthei nunca escondeu sua simpatia por Pinochet e o defendeu quando esteve sob prisão domiciliar em Londres (em 1998). São duas posturas de vida radicalmente opostas - enfatizou Moreno.

Nesta campanha, Bachelet prometeu uma reforma constitucional profunda (a atual Carta Magna é de 1980) e políticas sociais mais abrangentes, principal em saúde e educação. Matthei também priorizou demandas sociais, mas jamais mencionou a possibilidade de reformar a Constituição herdada de Pinochet.

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Noticia publicada en el diario brasileño O Globo con sede en Río de Janeiro, en el enlace  http://oglobo.globo.com/mundo/no-chile-vida-de-candidatas-durante-ditadura-ofuscada-por-debate-social-10794558